quinta-feira, 26 de maio de 2016

RESENHA CRÍTICA: O NOME DO VENTO

Saudações leitores,este é o primeiro post e também a primeira resenha do blog "Rosa dos Ventos".Escolhi este livro pois amo o gênero de fantasia e agradeço a Rothfuss por ter me ajudado a superar momentos de ansiedade e aplicar em minha própria vida os conhecimentos do livro.Ao me envolver na história cativante de Kvothe,meus próprios problemas pessoais foram parecendo ínfimos diante da vida conturbada do protagonista,não obstante a astúcia com a qual o jovem mago lidava com eles.Espero que gostem e em breve publicarei a resenha do próximo título da série "O Temor do Sábio".Não esqueçam de comentar e até a próxima!

Capa do livro "O Nome do Vento",Patrick Rothfuss,publicado no Brasil em 2009 pela editora Sextante.
Fonte: submarino.com.br

Título original: The name of the wind.
Temas: mistério, silêncio, melancolia, alegria, magia, inteligência, amor, ódio, herói, vilão, ética, religião, natureza humana, amizade, preconceito, vingança, loucura.
Gênero: romance americano, narrativa intertextual em primeira pessoa.
Autor: Patrick Rothfuss nasceu em Madison, Wisconsin onde vive atualmente. Leciona inglês na universidade do Wisconsin – Stevens Point. Ganhador do concurso Writers of the Future (Escritores do Futuro) em 2002 com The Road to Levinshir (A Estrada para Levinshir),excerto de seu romance.O romance foi dividido em três partes na série A Crônica do Matador do Rei (The Kingkiller Chronicle).O Nome do Vento (The Name of the Wind),primeiro livro da saga,foi publicado em 2007 quando ganhou o premio Quill Award de melhor fantasia e ficção científica,além de figurar no topo da lista dos mais vendidos do The New York Times.Na sequência,O Temor do Sábio (The Wise Man´s Fear) e A Música do Silêncio (The Slow Regard of Silent Things),publicados em 2011 e 2015 respectivamente.

SINOPSE

E assim, Taborlin caiu, mas não se desesperou. É que sabia o nome do vento, e por isso o vento lhe obedecia. O vento o aninhou e acariciou. Carregou-o para o chão com a suavidade da brisa ao soprar a lanugem do cardo. Colocou-o de pé com a doçura de um beijo materno. (ROTHFUSS, 2009, p.307, grifos do autor).

Rothfuss inicia sua narrativa com o prólogo “Um silêncio de três partes”. Silêncio para o autor pode ter vários significados,como a bucólica Pousada Marco do Percurso.Outro silêncio é aquele dos homens que freqüentam a hospedaria depois de um exaustivo dia de trabalho no campo para comer,beber e falar sobre o clima.O maior e último silêncio é o do protagonista,Kvothe (pronuncia-se ‘Kuouth’),o qual esconde-se sob o pseudônimo Kote,simples estalajadeiro, mas apenas para os olhos mais desatentos.

Quando na lareira azula o fogo,
O que fazer? O que fazer?
Correr para fora e se esconder.” (ROTHFUSS, 2009, p. 32, grifos do autor).

Mapa "Os Quatro Cantos da Civilização",mundo mítico medieval idealizado por Rothfuss
Fonte: maisumapaginalivros.blogspot.com

Na terra mítica medieval de “Os Quatro Cantos da Civilização” idealizada por Rothfuss, Nalgures é a cidade pitoresca que abriga a Pousada Marco do Percurso. Após ser atacado na estrada por demônios e resgatado por Kote, imediatamente o Cronista percebe a farsa do estalajadeiro. Em busca da verdade por detrás da lenda,o Cronista convence Kote a recordar-se de quem era e a narrar sua (verdadeira) história.Nesse momento Rothfuss trabalha a intertextualidade,escrevendo uma crônica dentro de outra, com narrativa em primeira pessoa.
No capítulo 6 “O preço da recordação”, o Cronista tem a súbita idéia do gelo fino que em que está pisando, mas não desiste: “Então essa é a diferença entre contar uma história e estar dentro dela, pensou, entorpecido: o medo.” (ROTHFUSS, 2009, p.51, grifos do autor). O carismático Bast,demônio de aparência humana e fiel discípulo de Kvothe aprova a idéia do Cronista,encorajando seu mestre a recordar-se do passado,principalmente de suas glórias,sendo o verdadeiro intuito de Bast resgatar Kvothe de sua profunda e silenciosa crise existencial.
Kvothe finalmente concorda em compartilhar suas memórias com Bast e com o Cronista, com a condição de que este redija a história em três dias. O Nome do Vento faz parte de A Crônica do Matador do Rei,sendo o primeiro dia da saga.No primeiro livro, Rothfuss relata a infância lúdica de Kvothe com sua família em uma trupe itinerante,seguida pela dura vida de órfão na cidade caótica de Tarbean, até o seu ingresso aos quinze anos na Universidade através de muito esforço.
O jovem Kvothe possui dois objetivos: primeiro, aprender a arte de nomear as coisas (em especial o vento), adquirindo poder e tornando-se um exímio arcanista; segundo, reunir informações acerca do misterioso e lendário grupo que assassinou brutalmente a sua família, o Chandriano.

A voz vinha de um homem sentado longe dos demais, envolto em sombras, nos limites do fogo. Embora o pôr-do-sol ainda clareasse o céu e não houvesse nada entre a fogueira e o lugar onde ele se sentava,as sombras se acumulavam a seu redor como óleo espesso.O fogo crepitava e dançava,animado e quente,com um toque azulado,mas nenhum lampejo de sua luz se aproximava dele.A sombra se adensava em volta de sua cabeça.Captei o vislumbre de um capuz grande e escuro,como os que usavam alguns sacerdotes,mas as sombras embaixo dele eram tão profundas que era como olhar para um poço à meia noite. (ROTHFUSS, 2009, p.119).

Na Universidade, Kvothe destaca-se por sua inteligência e habilidades inatas que desenvolveu na trupe itinerante dos Edena Ruh e com seu primeiro mestre arcanista Abenthy (Ben), bem como pela sua agilidade e sagacidade, responsáveis por ter sobrevivido à dura vida em Tarbean. Sofre muito preconceito,pois não obstante sua condição humilde,ainda é membro dos Ruh,tão discriminados quanto os ciganos.Por sorte Kvothe encontra dois fiéis amigos na Universidade,Wil e Simmon,com os quais compartilha bebida,música,esperança e temores.

A rapidez e a exatidão de minhas respostas os impressionaram. Alguns esconderam a admiração, outros a estamparam abertamente no rosto.A verdade é que eu precisava impressioná-los.Por minhas conversas anteriores com Ben,sabia que era preciso ter dinheiro ou inteligência para entrar na Universidade.Quanto mais se tinha de um,menos se precisava do outro. (ROTHFUSS, 2009, p.224).

Nosso jovem mago vai criando sua reputação, nem sempre por vontade própria ou da forma que gostaria, talvez mais por seu estilo ousado e personalidade corajosa. O capítulo 42 “Sem sangue” (cuidado,spoilers!) revela-nos um de seus primeiros títulos: “Kvothe,o Sem-Sangue”.Depois de quase ter sido expulso da Universidade,não obstante açoitado publicamente por ter desafiado um dos mestres durante uma aula de simpatias,Kvothe utiliza uma droga que atenua o sangramento das chibatadas. “- Tomei a nahlruta porque não queria desmaiar.Precisava fazê-los saber que não podem me ferir. Aprendi que a melhor maneira de a pessoa ficar segura é deixar os inimigos cientes de que não podem feri-la (...).” (ROTHFUSS,2009,p.273).

Pintura à óleo,26x35,retratando o jovem Kvothe,por Donato Giancola,2008
Fonte: donatoart.com

Além da reputação, E´lir Kvothe (E´lir é a graduação anterior a Re´lar) consegue tornar-se membro do Arcanum graças a sua façanha anterior, além de ser aceito como aprendiz de alguns mestres, resolvendo momentaneamente seus problemas financeiros. Ao ingressar no Arcanum,Kvothe pode acessar a parte mais restrita do Acervo,o Arquivo,a fim de poder aprender mais alguma coisa sobre o Chandriano. Seu recente arquiinimigo na Universidade, o jovem e aristocrata Re´lar Ambrose, consegue fazer com que Kvothe seja expulso do Acervo ao vender a este uma vela, sendo expressamente proibido portar fogo dentro da biblioteca. Kvothe promete vingança!
Impossível falar de Kvothe sem falar de suas duas amantes: a música e Denna, onde uma serve de inspiração para a outra. Apesar de sua inexperiência com mulheres,nosso jovem bardo conquista o coração selvagem da donzela que afirma preferir margaridas ao invés de rosas.Buscando um empréstimo  com uma agiota a fim de poder custear seus estudos,Kvothe reencontra suas amantes na cidade vizinha de Imre.

A música é uma amante orgulhosa e temperamental. Recebendo o tempo e a atenção que merece, ela é sua. Desdenhada, chega o dia em que você a chama e ela não responde. Por isso comecei a dormir menos, para lhe dar o tempo de que ela precisava. (ROFHTUSS, 2009, p. 330).

Ao buscar um lugar sossegado para praticar a música do alaúde, Kvothe encontra sua fada particular. Seu nome é Auri, ex-aluna excêntrica da Universidade que prefere viver nos subterrâneos.Auri decide compartilhar seus segredos com Kvothe, desde que este lhe faça companhia com música,comida e bebida.
Quando descobre sobre a existência da taberna Eólica, a qual era famosa por receber os melhores músicos da cidade, Kvothe enxerga a possibilidade de tocar na prestigiada taberna e conseguir um mecenas. Na companhia de Wil e Simmon,Kvothe reencontra a jovem cortesã Denna,a qual também está na Eólica em busca de um mecenas.No capítulo 54 “Um lugar para incendiar”,o coração de Kvothe e Denna batem mais forte no dueto inesperado de Savien e Aloine na Eólica.

Silêncio! Atentai! Pois, inda que muito ouvísseis,
Por canção tão doce em vão teríeis de esperar,
Como a Illien mesmo coube outrora aguardar:
Obra-prima de um mestre de lidas difíceis
Sobre Savien e Aloine, que ele viria a desposar.” (ROTHFUSS, 2009, p.358).

CRÍTICA

Arte digital de Kvothe enganando o Draccus para salvar Denna
Fonte: justinswapp.com

Rothfuss não deve ser comparado a Tolkien ou R.R. Martin, visto que comparações costumam ser tendenciosas. Mesmo elogiado pelo criador de Guerra dos Tronos,Rothfuss alcança por mérito ver seu primeiro livro figurando no topo da lista dos mais bem vendidos do The New York Times,além de receber o prêmio Quill Awards de melhor fantasia e ficção científica.Nada mais justo pois “Os Quatro Cantos da Civilização” ,mundo mítico medieval idealizado por Rothfuss, é mesmo único.
Ao longo da narrativa intertextual em primeira pessoa, Rothfuss aborda o tema central do mistério que envolve o protagonista Kvothe. Através de detalhadas descrições das personagens e do cenário, o enredo desenvolve-se ao redor de outros sub temas abordados pelo autor e compartilhados na personalidade de Kvothe,tais como o silêncio,a melancolia,a alegria,a magia,a inteligência,o amor,o ódio, o heroísmo,a natureza humana,a amizade,o preconceito,a vingança,a loucura,dentre tantos outros.
Em O Nome do Vento, Rothfuss consegue traçar o perfil do jovem Kvothe, deixando a cargo do leitor tirar as suas próprias conclusões sobre o homem que ele se tornará ao longo da saga. O livro de mais de 600 páginas, dividido com maestria pelo autor ao longo de 92 breves capítulos temáticos, nos torna reféns de nossa curiosidade.Ficamos ansiosos a cada vez que abrimos o livro e nos sentamos com Bast na Marco do Percurso para ouvirmos atentamente Kvothe relatar sua história ao Cronista.
Recomendo o livro para aqueles que conseguem reconhecer a magia das palavras, capazes de através da simples leitura se transportarem a universos que muitos nem sonham existirem. Vivemos com Kvothe a crônica dentro da crônica,a lenda dentro da lenda,e por que não trazermos o protagonista ao nosso cotidiano e nos perguntarmos: O que o Kvothe faria? Então de prontidão ele responderia: Eu aprenderia o nome do vento!

Gilvan de Barros Pinangé Neto
Goiânia, 26 de maio de 2016.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ROTHFUSS, Patrick. O nome do vento. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.




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