Saudações
leitores,este é o primeiro post e também a primeira resenha do blog "Rosa
dos Ventos".Escolhi este livro pois amo o gênero de fantasia e agradeço a
Rothfuss por ter me ajudado a superar momentos de ansiedade e aplicar em minha
própria vida os conhecimentos do livro.Ao me envolver na história cativante de
Kvothe,meus próprios problemas pessoais foram parecendo ínfimos diante da vida
conturbada do protagonista,não obstante a astúcia com a qual o jovem mago
lidava com eles.Espero que gostem e em breve publicarei a resenha do próximo
título da série "O Temor do Sábio".Não esqueçam de comentar e até a
próxima!
Capa do livro "O Nome do Vento",Patrick Rothfuss,publicado no Brasil em 2009 pela editora Sextante. Fonte: submarino.com.br |
Título
original: The name of the wind.
Temas:
mistério, silêncio, melancolia, alegria, magia, inteligência, amor, ódio,
herói, vilão, ética, religião, natureza humana, amizade, preconceito, vingança,
loucura.
Gênero:
romance americano, narrativa intertextual em primeira pessoa.
Autor:
Patrick Rothfuss nasceu em Madison, Wisconsin onde vive atualmente. Leciona
inglês na universidade do Wisconsin – Stevens Point. Ganhador do concurso Writers of the Future (Escritores do
Futuro) em 2002 com The Road to Levinshir
(A Estrada para Levinshir),excerto de
seu romance.O romance foi dividido em três partes na série A Crônica do Matador do Rei (The
Kingkiller Chronicle).O Nome do Vento (The Name of the Wind),primeiro livro da saga,foi publicado em 2007
quando ganhou o premio Quill Award de
melhor fantasia e ficção científica,além de figurar no topo da lista dos mais
vendidos do The New York Times.Na
sequência,O Temor do Sábio (The Wise Man´s Fear) e A Música do Silêncio (The Slow Regard of Silent Things),publicados
em 2011 e 2015 respectivamente.
SINOPSE
E assim, Taborlin caiu,
mas não se desesperou. É que sabia o nome do vento, e por isso o vento lhe
obedecia. O vento o aninhou e acariciou. Carregou-o para o chão com a suavidade
da brisa ao soprar a lanugem do cardo. Colocou-o de pé com a doçura de um beijo
materno.
(ROTHFUSS, 2009, p.307, grifos do autor).
Rothfuss inicia sua narrativa
com o prólogo “Um silêncio de três partes”. Silêncio para o autor pode ter
vários significados,como a bucólica Pousada Marco do Percurso.Outro silêncio é
aquele dos homens que freqüentam a hospedaria depois de um exaustivo dia de
trabalho no campo para comer,beber e falar sobre o clima.O maior e último
silêncio é o do protagonista,Kvothe (pronuncia-se ‘Kuouth’),o qual esconde-se
sob o pseudônimo Kote,simples estalajadeiro, mas apenas para os olhos mais
desatentos.
“Quando
na lareira azula o fogo,
O que
fazer? O que fazer?
Correr
para fora e se esconder.” (ROTHFUSS, 2009, p. 32, grifos do
autor).
Mapa "Os Quatro Cantos da Civilização",mundo mítico medieval idealizado por Rothfuss Fonte: maisumapaginalivros.blogspot.com |
Na terra mítica medieval de
“Os Quatro Cantos da Civilização” idealizada por Rothfuss, Nalgures é a cidade
pitoresca que abriga a Pousada Marco do Percurso. Após ser atacado na estrada
por demônios e resgatado por Kote, imediatamente o Cronista percebe a farsa do
estalajadeiro. Em busca da verdade por detrás da lenda,o Cronista convence Kote
a recordar-se de quem era e a narrar sua (verdadeira) história.Nesse momento
Rothfuss trabalha a intertextualidade,escrevendo uma crônica dentro de outra,
com narrativa em primeira pessoa.
No
capítulo 6 “O preço da recordação”, o Cronista tem a súbita idéia do gelo fino
que em que está pisando, mas não desiste: “Então
essa é a diferença entre contar uma história e estar dentro dela, pensou,
entorpecido: o medo.” (ROTHFUSS,
2009, p.51, grifos do autor). O carismático Bast,demônio de aparência humana e
fiel discípulo de Kvothe aprova a idéia do Cronista,encorajando seu mestre a
recordar-se do passado,principalmente de suas glórias,sendo o verdadeiro
intuito de Bast resgatar Kvothe de sua profunda e silenciosa crise existencial.
Kvothe finalmente concorda em
compartilhar suas memórias com Bast e com o Cronista, com a condição de que
este redija a história em três dias. O
Nome do Vento faz parte de A Crônica
do Matador do Rei,sendo o primeiro dia da saga.No primeiro livro, Rothfuss
relata a infância lúdica de Kvothe com sua família em uma trupe
itinerante,seguida pela dura vida de órfão na cidade caótica de Tarbean, até o
seu ingresso aos quinze anos na Universidade através de muito esforço.
O jovem Kvothe possui dois
objetivos: primeiro, aprender a arte de nomear as coisas (em especial o vento),
adquirindo poder e tornando-se um exímio arcanista; segundo, reunir informações
acerca do misterioso e lendário grupo que assassinou brutalmente a sua família,
o Chandriano.
A
voz vinha de um homem sentado longe dos demais, envolto em sombras, nos limites
do fogo. Embora o pôr-do-sol ainda clareasse o céu e não houvesse nada entre a
fogueira e o lugar onde ele se sentava,as sombras se acumulavam a seu redor
como óleo espesso.O fogo crepitava e dançava,animado e quente,com um toque
azulado,mas nenhum lampejo de sua luz se aproximava dele.A sombra se adensava
em volta de sua cabeça.Captei o vislumbre de um capuz grande e escuro,como os
que usavam alguns sacerdotes,mas as sombras embaixo dele eram tão profundas que
era como olhar para um poço à meia noite. (ROTHFUSS, 2009, p.119).
Na
Universidade, Kvothe destaca-se por sua inteligência e habilidades inatas que
desenvolveu na trupe itinerante dos Edena Ruh e com seu primeiro mestre
arcanista Abenthy (Ben), bem como pela sua agilidade e sagacidade, responsáveis
por ter sobrevivido à dura vida em Tarbean. Sofre muito preconceito,pois não
obstante sua condição humilde,ainda é membro dos Ruh,tão discriminados quanto
os ciganos.Por sorte Kvothe encontra dois fiéis amigos na Universidade,Wil e
Simmon,com os quais compartilha bebida,música,esperança e temores.
A rapidez e a exatidão de minhas respostas os
impressionaram. Alguns esconderam a admiração, outros a estamparam abertamente
no rosto.A verdade é que eu precisava impressioná-los.Por minhas conversas
anteriores com Ben,sabia que era preciso ter dinheiro ou inteligência para
entrar na Universidade.Quanto mais se tinha de um,menos se precisava do outro.
(ROTHFUSS, 2009, p.224).
Nosso
jovem mago vai criando sua reputação, nem sempre por vontade própria ou da
forma que gostaria, talvez mais por seu estilo ousado e personalidade corajosa.
O capítulo 42 “Sem sangue” (cuidado,spoilers!)
revela-nos um de seus primeiros títulos: “Kvothe,o Sem-Sangue”.Depois de quase
ter sido expulso da Universidade,não obstante açoitado publicamente por ter
desafiado um dos mestres durante uma aula de simpatias,Kvothe utiliza uma droga
que atenua o sangramento das chibatadas. “- Tomei a nahlruta porque não queria
desmaiar.Precisava fazê-los saber que não podem me ferir. Aprendi que a melhor
maneira de a pessoa ficar segura é deixar os inimigos cientes de que não podem
feri-la (...).” (ROTHFUSS,2009,p.273).
Pintura à óleo,26x35,retratando o jovem Kvothe,por Donato Giancola,2008 Fonte: donatoart.com |
Além
da reputação, E´lir Kvothe (E´lir é a graduação anterior a Re´lar) consegue
tornar-se membro do Arcanum graças a sua façanha anterior, além de ser aceito
como aprendiz de alguns mestres, resolvendo momentaneamente seus problemas
financeiros. Ao ingressar no Arcanum,Kvothe pode acessar a parte mais restrita
do Acervo,o Arquivo,a fim de poder aprender mais alguma coisa sobre o
Chandriano. Seu recente arquiinimigo na Universidade, o jovem e aristocrata
Re´lar Ambrose, consegue fazer com que Kvothe seja expulso do Acervo ao vender
a este uma vela, sendo expressamente proibido portar fogo dentro da biblioteca.
Kvothe promete vingança!
Impossível
falar de Kvothe sem falar de suas duas amantes: a música e Denna, onde uma
serve de inspiração para a outra. Apesar de sua inexperiência com
mulheres,nosso jovem bardo conquista o coração selvagem da donzela que afirma
preferir margaridas ao invés de rosas.Buscando um empréstimo com uma agiota a fim de poder custear seus
estudos,Kvothe reencontra suas amantes na cidade vizinha de Imre.
A música é uma amante orgulhosa e
temperamental. Recebendo o tempo e a atenção que merece, ela é sua. Desdenhada,
chega o dia em que você a chama e ela não responde. Por isso comecei a dormir
menos, para lhe dar o tempo de que ela precisava. (ROFHTUSS, 2009, p. 330).
Ao
buscar um lugar sossegado para praticar a música do alaúde, Kvothe encontra sua
fada particular. Seu nome é Auri, ex-aluna excêntrica da Universidade que
prefere viver nos subterrâneos.Auri decide compartilhar seus segredos com
Kvothe, desde que este lhe faça companhia com música,comida e bebida.
Quando
descobre sobre a existência da taberna Eólica, a qual era famosa por receber os
melhores músicos da cidade, Kvothe enxerga a possibilidade de tocar na
prestigiada taberna e conseguir um mecenas. Na companhia de Wil e Simmon,Kvothe
reencontra a jovem cortesã Denna,a qual também está na Eólica em busca de um
mecenas.No capítulo 54 “Um lugar para incendiar”,o coração de Kvothe e Denna
batem mais forte no dueto inesperado de Savien e Aloine na Eólica.
“Silêncio! Atentai! Pois, inda que muito
ouvísseis,
Por canção tão doce em vão teríeis de
esperar,
Como a Illien mesmo coube outrora
aguardar:
Obra-prima de um mestre de lidas difíceis
Sobre Savien e Aloine, que ele viria a
desposar.” (ROTHFUSS, 2009, p.358).
CRÍTICA
Arte digital de Kvothe enganando o Draccus para salvar Denna Fonte: justinswapp.com |
Rothfuss
não deve ser comparado a Tolkien ou R.R. Martin, visto que comparações costumam
ser tendenciosas. Mesmo elogiado pelo criador de Guerra dos Tronos,Rothfuss
alcança por mérito ver seu primeiro livro figurando no topo da lista dos mais
bem vendidos do The New York Times,além
de receber o prêmio Quill Awards de
melhor fantasia e ficção científica.Nada mais justo pois “Os Quatro Cantos da
Civilização” ,mundo mítico medieval idealizado por Rothfuss, é mesmo único.
Ao
longo da narrativa intertextual em primeira pessoa, Rothfuss aborda o tema
central do mistério que envolve o protagonista Kvothe. Através de detalhadas
descrições das personagens e do cenário, o enredo desenvolve-se ao redor de
outros sub temas abordados pelo autor e compartilhados na personalidade de
Kvothe,tais como o silêncio,a melancolia,a alegria,a magia,a inteligência,o
amor,o ódio, o heroísmo,a natureza humana,a amizade,o preconceito,a vingança,a
loucura,dentre tantos outros.
Em O Nome do Vento, Rothfuss consegue
traçar o perfil do jovem Kvothe, deixando a cargo do leitor tirar as suas
próprias conclusões sobre o homem que ele se tornará ao longo da saga. O livro
de mais de 600 páginas, dividido com maestria pelo autor ao longo de 92 breves
capítulos temáticos, nos torna reféns de nossa curiosidade.Ficamos ansiosos a
cada vez que abrimos o livro e nos sentamos com Bast na Marco do Percurso para
ouvirmos atentamente Kvothe relatar sua história ao Cronista.
Recomendo
o livro para aqueles que conseguem reconhecer a magia das palavras, capazes de
através da simples leitura se transportarem a universos que muitos nem sonham
existirem. Vivemos com Kvothe a crônica dentro da crônica,a lenda dentro da
lenda,e por que não trazermos o protagonista ao nosso cotidiano e nos
perguntarmos: O que o Kvothe faria? Então de prontidão ele responderia: Eu
aprenderia o nome do vento!
Gilvan
de Barros Pinangé Neto
Goiânia,
26 de maio de 2016.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROTHFUSS,
Patrick. O nome do vento. Rio de
Janeiro: Sextante, 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário